terça-feira, 2 de novembro de 2010

"Seja como for, continuo gostando muito de você - da mesma forma -, você está quase sempre perto de mim, quase sempre presente em memórias, lembranças, estórias que conto às vezes, saudade..."

Teus sapatinhos vermelhos

-Quer beber alguma coisa?
Ela suspirou. Encolheu os dedos das mãos para não alcançar a subjetividade. É.
-Não, obrigada.
-Tem certeza?
Não, não tenho certeza
-Tenho, obrigada.
-Você costumava ficar calada em dias de chuva mesmo.
-Como?
-Em dias de chuva. Você ficava calada.
Era medo de dizer muito e não dizer absolutamente nada.
-Não só em dias de chuva.
-Eu gostava, pequena, dos teus silêncios. Só algumas vezes que eles me constrangiam...
Era de propósito!
-Constrangiam? Não era a intenção.
-Era sim. Você nunca faz as coisas por acaso.
-Não seja convencido. Acredita mesmo que perdi tempo pensando nas coisas que iria dizer para você?
Sim, eu perdi, querido, eu perdi.
-Não sei, perdeu?
-Não. Vamos mudar de assunto.
-Certo. Ainda guardo teus sapatinhos vermelhos.
Então eles ainda estão com você! Ah, obrigada, meu bem! Quantas noites eu passei em claro pensando que você poderia ter jogado eles fora em uma tentativa frustrada de me esquecer. Ah, eles ainda estão com você, meus sapatinhos vermelhos!
-Por que ainda os guarda? Não faz sentido um homem feito ficar se apegando às mulheres do passado.
-Mulheres do passado?
Por favor, diga que não somos passado, diga que somos apenas presente e quem sabe um futuro, entende. Diga que não somos passado.
-Você se considera um passado para mim?
Seu grande filho da puta, acha que é bom ir matando pedacinhos de mim?
-Não me considero nada. Absolutamente nada.
-Quanta bobagem. Vem cá, não se perde de mim de novo, não.
Eu vou. Eu quero, eu vou.
-Fique longe de mim, por favor. Combinamos que não iríamos mais fazer isso.
-Isso?
-É.
-Há coisas que eu simplesmente não posso controlar.
Ainda bem, pequeno, ainda bem! Por que você está sorrindo para mim agora? Como se soubesse que estaremos colados um no outro dentro de alguns minutos? Como se soubesse que acordaremos de madrugada e falaremos que desta vez dará certo, que desta vez será diferente.
-Não me interessa. Controle-se.
-Vem cá.
-Não.
-Vem cá, droga.
-Não, obrigada.
Não, obrigada?
Ele deu uma risada:
-Não, obrigada?
-Obrigada por me oferecer teu amor, mas não estou interessada.
-Claro que está.
Claro que estou, claro que estou! Vem cá.
-Não estou, obrigada.
-Quer beber alguma coisa?
-Oi?
-Quer beber alguma coisa?
Quero. Você.
-Não, obrigada. Preciso ir embora.
-Comigo?
-Não. Para a minha casa. Sozinha. Estou exausta.
-Exausta?
Exausta de tanto desejar e não ter, exausta de tanto querer ir e não poder. Exausta por ter perdido a coragem de ir com você.
-Ando trabalhando até tarde, todos os dias. Preciso ir embora.
-Certo. Obrigado pela companhia.
Filho da puta!
-Obrigado pela companhia?
-É, pequena, obrigado.
-Não estou entendendo... Obrigado?
Droga, a máscara está caindo. A máscara está caindo.
Ele riu:
-Estava apenas brincando. Vem cá, vem.
Não brinca mais assim, não faz mais isso. Meu coração foi pisoteado só de pensar que você iria desistir de mim. Não desiste de mim. Não desiste de mim. Não desiste de mim.
-Tá bom, eu vou.

Ele sorriu e estendeu a mão.

Eu fui.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Run to your dreaming/When you're alone/Unplug the Tv/Turn off the phone/Get heavy on with diggin your ditch
Cuz I'm/Diggin a ditch/Where madness gives/Diggin a ditch/Where silence lives/Diggin a ditch/When I'm old/Diggin a ditch/My story's told
Where all these troubles/that weighed down on me/will rise
Run to your dreaming/When you're alone/Whre all these worries/That hold heavy on my heart/Will die/Will die/Will die
Run to your dreaming/When you're alone/Unplug the Tv/Turn off the phone/Get heavy on with/Diggin your ditch
Cuz I'm/Diggin a ditch/Where madness gives/Diggin a ditch/Where silence lives in it/Diggin a ditch/When I'm through/Diggin this ditch/I'm diggin for you
Where all these disappointments/That grow angry out of me/Will die/Where all these habits that hold heavy on my heart/Will die
Run to your dreaming when you're alone/Not what you should beor what you've become/Just get heavy on with diggin/your ditch
Cuz I'm/Diggin a ditch/Where madness gives a bit/Diggin a ditch/Where silence lives
Oh where all these troubles/That weigh down on me/Will rise/Will rise/Will rise/Will rise
Run to your dreaming when you're alone/Unplug the Tv/Turn off the phone/Get heavy on with/Diggin your ditch

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Hoje eu já dancei ao som de Nô Stopa, caminhei até a farmácia, conversei com o contador, cozinhei, trabalhei até um novo fio de cabelo branco apontar por aqui... fiz tanta coisa que não parei pra pensar na confusão em que eu me meti.
Talvez se eu fugisse pro México, mas sei que isso não vai resolver.

Então eu quero que essa segunda-feira vá pra puta que pariu!


Cansei. Quero outro dia.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ela tinha o 'grande final' como chão para as suas dores. Pena que ela ainda não havia tocado o sucesso, só o vira em seus livros empoeirados de ficção, de amor.
Sempre soube o que queria fazer para o resto de sua vida. Traçara seus planos anos antes e só o fato do acaso existir a deixava louca. Seus olhares eram lancinantes por simples medo e seu medo só parecia fazer sentido para uma pessoa.
Uma única pessoa.
Pois bem, ela poderia ter tudo o que as pessoas gostariam de ter, mas isso não a fazia feliz. Porque faltava alguma coisa, sempre faltou alguma coisa! E essa coisa só era visível aos olhos dele. Ele sabia como entrelaçar seus dedos nos dela e dizer que tudo iria dar certo. Ele vinha de longe, plantava delírios no mundinho esquecido que ela chamava de "eu" e acabava por transformar em flores aquilo que vinha da dor.

Ele via o motivo.
Ele compreendia o motivo.
Ele vivia pelo motivo desconcertante de fazer tudo ao contrário.
Por que é que ela simplesmente não o acompanhava?
Meus caros leitores, ela não o acompanhava porque tinha medo de encontrar o caminho enquanto se perdia.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Clareia minha vida.... no olhar.

Havia o cansaço. O vento fresco e perfumado unia-se à chuva fraquinha e convidativa.
Dias bonitos eram raros desde que ela se conhecia como gente. Ora essa, sempre fora tão mais fácil pular dentro de si mesma e mostrar orgulho, nunca fraqueza. Desprezo, nunca saudade. Mas aquele dia...Ah, aquele dia a fez bater a porta de sua casinha atrás de si e caminhar pelas estreitas ruas da cidade.
Abriu o guarda-chuva vermelho para que a desilusão não molhasse aquela sua felicidade que a fez abrir um sorriso lentamente, de modo que seus lábios deslizaram de satisfação. Sentia-se o cheiro de café com afeto, de grama molhada, de passos ligeiros para a casa, para a família, para os livros que descansavam no criado-mudo.
Mas ela não. Ela estava ali, sozinha, caminhando e percebendo que sempre havia alguma coisa acontecendo ao seu redor.
Sempre haveria, na verdade.
Isso angustiava seus pensamentos avulsos e intensos. Era tanta vida para tão pouco tempo! Como ela conseguiria lidar com isso tudo? Como?
Ela esperava sempre mais. Mais das coisas, das pessoas, dos sentimentos, dos impulsos. Rasgava sua confiança em si mesma por um pouco de aventura, de angústia.
Ah, ela gostava da angústia, como gostava! Poderia passar dias pensando em coisas sem importância, coisas que a moviam de um lado para outro. Que a moviam da felicidade para a tristeza e o tédio. Da simplicidade para o drama.
Ela vivia mesmo quando alguma coisa pulava para o errado, o inaceitável. Quando tudo estava perfeitamente encaixado nos moldes dos normais, ela sofria em silêncio. Matava suas dúvidas em silêncio. Perdia-se de si mesma em silêncio. E nem se importava.
Nada a interessava se não houvesse sofrimento, drama e amor. Nada a interessava se fosse fácil demais de entender, se fosse uma situação afinada e sutil.
Sempre gostou do gasto, do estrago, do fim, do ontem. Sempre gostou de mergulhar dentro dos livros e perder-se na emoção que era morder todas aquelas palavras. Era algo que valia a pena. E era assim que ela gostava que as coisas fossem.
Olhou para o lado e abraçou a poesia que andava sempre ao seu lado. Sua língua estalava no desejo de pedir explicações à poesia, pedir um pouco de música, um pouco de mentira.
Mas preferiu manter seus sonhos calados e jogados no fundo da dor e do abraço.
Deslizou os lábios em mais um sorriso, fechou o guarda-chuva e deixou que a água desse para a rua um pouco de si mesma.

Queria ver como explicariam suas deduções agora. Queria só ver.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Que te dizer? Que te amo, que te esperarei um dia numa rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim? É tão pouco. Não te preocupa. O que acontece é sempre natural — se a gente tiver que se encontrar, aqui ou na China, a gente se encontra. Penso em você principalmente como a minha possibilidade de paz — a única que pintou até agora, “nesta minha vida de retinas fatigadas”. E te espero. E te curto todos os dias. E te gosto. Muito. Tô morando, trabalhando, estudando e amando. Esses são os quatro foles da minha vida, no momento, e sobre cada um deles eu teria milhares de páginas a preencher..."

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pode ser da vida acostumar.

Há uma tempestade acinzentada lá fora.
Pela vidraça escorrem lúgubres memórias do tempo que tive.
A lufada das horas carrega-me, insossa, por caminhos ritmados.
Os meus pés, descalços, sentem a tortura dos papéis amarrotados.
Chove. Diria-me qualquer poeta amigo que é este
O momento de desaguar-me em metáforas previsíveis
E regozijar-me em metonímias infindas.
Sinto muito: esta noite não voltarei a escrever ainda.
Permaneço no incauto do meu subterfúgio.
Estarreço! Toco-me… sim, sou eu ainda…
Sou eu: a essência do poeta que não fui
E só.
Embora relegada, vazia, manchada com o arco-íris negro
Do tinteiro caído sobre a mesa,
Sou eu… sou minhas memórias… sou a pilha de papel amarelecida na estante.
E só.

domingo, 30 de maio de 2010

Later that night, I got to thinking about fathers, or the lack of them.
Some say a daughter’s relationship with her father is the model of all her subsequent relationships with men. Is that just pop psychology or is there some truth to it?
And if you were given a less than perfect model, does that mean a life of less than perfect relationships?
I couldn’t help but wonder: how much does a father-figure figure?

Carrie Bradshaw, Sex and The City.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

pérolas ao poço

Se eu fosse boa nisso, eu até acenderia um cigarro agora, tomava aquela vodca vagabunda na geladeira e continuaria, passando assim, ignorando o que eu insisto em ver e já que insisto, quero ver mais de perto ainda e machuca a qualquer distância.
Se eu não gostasse tanto de ponto final, e que medo de ter me arrpendido, eu não pontuei as coisas ou não o fiz da maneira certa e meus verbos estão separados dos meus sujeitos por vírgulas por espaços de tempo.
E eu não consigo ignorar. Não consigo passar ilesa e não sei como ou pra quem dizer isso. Porque é como atirar pérolas ao poço. E aos poucos.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Há uma alma em mim, há uma calma que não condiz.

— Bom, feliz talvez ainda não. Mas tenho assim... aquela coisa... como era mesmo o nome? Aquela coisa antiga, que fazia a gente esperar que tudo desse certo, sabe qual?
— Esperança? Não me diga que você está com esperança!
— Estou, estou.

sábado, 24 de abril de 2010

Asas nos teus pés


Seja lá onde for, deixa o Sol te levar!

terça-feira, 20 de abril de 2010

O que sobrou foi uma xícara

O que sobrou foi uma xícara de café (ou de chá de hortelã). O que sobrou foi uma xícara que recebe uma sombra clara todos os dias quando é de manhã. É sempre uma nuvem que passa pela janela, espantando os pequenos pássaros lá de fora. E a xícara, sobre a pequena mesa da cozinha, de branca fica cinza por alguns minutos.

Quando ainda desperto, quando ainda sobrevôo meus pensamentos tentando quebrar esse sentindo-que-tive-bons-sonhos, sentindo o que é realidade e ilusão, lembro-me imediatamente que a xícara está lá, como se ela me esperasse para ficar cinza, ou verde, vai saber. Calço meus chinelos e adentro os corredores ainda sonolenta, ainda mal vestida, ainda despenteada. Sinto um cheiro de café, sinto o gelado das paredes com aqueles quadros que nem sei se gosto. E a xícara está lá.
Olho pra ela como se não a visse, como se ela fosse qualquer objeto transparente, translúcido, desinteressante, mas é tudo ilusão porque eu olho, verdadeiramente, como se fosse possível quebrá-la, com se fosse possível com a força do meu pensamento jogá-la contra a janela. Como se fosse possível adorar essa força que vem dela. E então chega a nuvem e forma aquela sombra. Aquela sombra maldita que a deixa tão mais sólida, tão mais densa, tão mais você.
Nesses longos minutos de sombra na xícara é como se eu também recebesse toda aquela sombra, como se eu, nuvem tenra, de repente fosse nuvem robusta (coisa que eu não sou). E assim, quando é, sinto ser possível mover uma tempestade, sinto ser possível controlar raios, trovões, relampagos, luminosidade.
Sento na cadeira, aquela de sempre. Sento na cadeira em direção à xícara. Eu poderia escolher outro lugar à mesa, mas não consigo, não devo, ou é alguma coisa que manda em mim e eu obedeço. Sente-se de frente para xícara, sussurra em meus ouvidos.
Se fosse xícara gente. Se fosse você xícara. Humano, carne e sangue, pequena, frágil, sem sentido. Talvez se sentisse bem por ser xícara, por ser humano, por receber uma pequena sensação do que é a vida e contentar-se com isso, apenas com isso.

Se você gente fosse xícara luminosa.

sábado, 17 de abril de 2010

Outra carta.

Tenho me distraído tanto ultimamnte, e nem pensar mais em você eu tenho pensado. Cada um seguindo sua vida. Bem let it be. Chego em casa à noite, olho pela janela, faço um chá e, não penso em você. Não penso em você de jeito nenhum. Deixo as coisas em seu devido lugar e minto pra mim dizendo que não foi tudo aquilo que eu dizia, que eu me enganei como já havia me enganado antes. Criei o costume de mentir para o meu reflexo no espelho e dizer que tudo bem, vai ficar tudo bem, que eu enfrentei teu adeus como um sorriso nos lábios. Tanta mentira que me causou tanta dor. Mas ontem eu cheguei em casa à noite, senti frio e pensei em você. E doeu bastante, doeu bastante pensar em você e saber que tínhamos tanto potencia pra encontrar o amor e a felicidade. Que podíamos sim ser feitos um pro outro. E enquanto eu fui pensando em tudo isso, fui me encolhendo dentro de mim mesma, e fui aceitando a dor, e chorei. Chorei tanto tanto tanto, esperando uma palavra de consolo de alguém, esperando você me dar um telefonema e dizer que tudo bem, pequena, eu estou aqui, nós estamos juntos nisso; que as coisas ainda são como a dois anos antes quando você me embalava nos braços e me fazia dormir. Pensar em você não devia nunca ser tão doloroso assim. Queria só que fosse bem let it be mesmo. Passou, passou. Não toca mais, não machuca mais, não consome mais. E eu, tão cheia de confinça, fui percebendo que fui arrogante demais com meu corção, que acreditei demais que poderíamos nos enganar pelo resto da vida. Tanta mentira que eu inventei pra suportar a dor de perder você. Hoje eu sei que os nossos momentos são tudo que eu tenho de bonito em mim. Agora eu consigo entender, e posso dizer que foi real, que valeu a pena. Que vale a pena. E existe, o amor existe sim, e ele pode ser bem verdadeiro se permitirmos.

Agora as noites continuarão a deslizar do lado de fora e, eu nada mais posso fazer pra trazer você de volta em minhas manhãs, eu só queria poder te ligar e dizer boa noite eu te amo forever da mesma forma em qualquer lugar, mas nada mais posso esperar, nada mais posso pedir.
[...]
Não tem mais você dentro da minha vida e dentro de todas as coisas que formavam a minha vida com você.
E eu acho que agora eu consigo aceitar que, mesmo com um fim, sempre existe uma chance de ser feliz dentro de nós mesmos e, dentro de todas as pessoas no mundo que podem, talvez, ser o que você foi pra mim.

Mas dói, dói bastante.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Uma coisa que me irrita profundamente?
Tirarem de mim dias bonitos, dias que poderiam ter sido, dias que poderão ser.
Uma coisa que deve irritar profundamente as outras pessoas?
O fato de eu ainda insistir, e por dias.
É. Odeio quando tiram de mim minha opção de escolha, ou pelo menos a minha opção de dizer não, sim, talvez, claro, nem pensar, quem sabe nunca, quem sabe sempre. Nem tudo o que é falado é dito, entende.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Tá bom

"Me diz, cadê você ai?
E ai, não há sequer um par pra dividir"

sexta-feira, 9 de abril de 2010

por três vezes ela havia começado outra carta. por três vezes se encheu de incertezas e perdeu o que existia para ser dito. deixou os textos de lado e foi dormir. porque ela era assim, desde antes, desde sempre: se estava insegura ou com medo ou com dores tão grandes e tão grandes que ninguém nunca poderia compreender, ela ia dormir.
o mundo é cruel com quem se aproxima. o mundo não ajuda com dias ensolarados para passeios no parque, ou com dinheiro brotando nos bolsos dos casacos, ou com pessoas que nos desejam bom dia no café da manhã. o mundo nos traz preocupações, medo, insegurança. nos traz caras feias e palavras duras que viram manhãs feias e dias duros e noites insuportáveis. o mundo nos testa 24 horas – nos testa até nos sonhos durante a noite.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

“Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez.”

Tô precisando, viu.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

é tudo que vale a pena

Saudade é um estado em nós, tem hora que toca - o coração -, tem hora que não.



Engraçado, às vezes nós estamos com saudade de algumas coisas e nem nos damos conta.

Eu estava com saudade das boas conversas até mais tarde, da música alta, das risadas, das besteiras sem sentido, do aconchego, das frases de livros, disso tudo que me pertence em conjunto.
Porque assim suspensa e de cabelos presos, mais intensamente ela era ela em seu balanço guardado, seu tumulto interior, seus gestos e risos por dentro, para sempre, ai.

sábado, 27 de março de 2010

Deixa o verão pra mais tarde!

É tão gratificante pensar em nada. O nada alimenta esse nosso desejo de ter sempre alguma coisa para amar, para pensar. Ah, danem-se! Como se eles entendessem e tivessem respostas para tudo que quase existe nessa vida.
Deixa a cadeira vazia, deixa o café esfriar, não espere alguém bater na sua porta.
Não espere alguém bater na sua porta.
Não espere alguém bater na sua porta.
Porque esperar é egoísmo e, juro para você, de egoísmo já basta a dúvida e a saudade que sentimos um dia. Não quero mais explicar cada tirinha dissimulada! Simplesmente não há palavras. O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Pensam que eu tenho a verdade absoluta, a palavra final, a força de vontade infinita? Mas eu sou tão finita que quase desapareço. Posso tocar com as pontas dos dedos cada um dos meus sentimentos, cada angústia que esse coração adora guardar num potinho e esconder embaixo da cama. Não quero mais pensar que elas existiram um dia, e muito menos que eu assoprei o pó daquela felicidade mentirosa. Aquela felicidade que, na verdade, só deixa pingar gotinhas de satisfação.
A felicidade completa não existe.
A felicidade completa não existe.
Porque sempre tem alguma desilusão. Sempre. Se não for com você, vai ser com outra pessoa. Pois...Quer saber? Cansei de tentar explicar.
Sua vez, poesia.
Quando o dia esbanjar esperança e cor, quero ver você se explicar.

Quero só ver.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Não me fale de amor, essa palavra de luxo.

Às vezes eu acho que as pessoas buscam no amor uma fuga de si mesmas; e procuram nele uma pureza que não existe.
Pois bem, como se livrar dessa mania de perfeição?

O amor é ilusório. Idealizamos a outra pessoa procurando aquilo que nos falta, com um afã desesperado de sermos completos. Jogamos, de forma egoísta e insensível, a nossa felicidade nas mãos do ser amado. Mal sabemos que o amor não é instintivo, mas sim uma resposta ao aglomeramento cultural. Pois é. E fazemos isso sem ao menos compreender e, o que é pior, perceber.
Amar não é querer estar. Amar é poder estar sem. Esse é um ponto crucial, principalmente para mim que tenho tanta necessidade de provar que não preciso me envolver com ninguém para me sentir completa.

Veja bem, não estou aqui dando uma aula sobre como amar e afins. Só estou dizendo, na minha humilde opinião, que só se aprende a amar sendo amado e se eu não correspondo a determinadas expectativas o erro pode não ser meu.

terça-feira, 23 de março de 2010

Davi

Todos os dias são teus.
Todos os dias da minha vida são teus.
Sempre teus!

sábado, 20 de março de 2010

Escuta

Encontrei, ao menos, um pouco de pó para o café. É que há um grito dentro de mim e eu tenho a necessidade doentia de começar dançando por outros assuntos, outros mares, numa tentativa frustrada de esquecer aquilo que eu iria dizer até antes mesmo de saber. Veja bem, preciso te confessar três coisas, e preciso do seu silêncio para ter coragem. Mas não aquele seu silêncio de anos, aquele silêncio que doía em mim, aquele seu silêncio-navalha, que dizia tudo por não dizer absolutamente nada. Eu quero aquele seu silêncio que deslizava em seus lábios e formava um sorriso enquanto eu falava, falava sem parar. Aquele seu silêncio de quem compreendia tudo que havia dentro de mim, mesmo que isso parecesse muito pouco, muito sem, e não zen. Veja bem, coração, você acha que consegue me dar aquele silêncio gostoso? Mesmo que por alguns minutos?
A primeira coisa que eu preciso confessar: eu sorria do outro lado do telefone. Um sorriso ridículo, um sorriso que vazava tantos outros dramas e tantas outras paixões, mas eu não sabia que a única paixão era você, veja bem, quando eu fingia não querer que você me ligasse para dizer que o pão da padaria havia acabado de sair, que estava ventando lá fora e que seu quarto estava escuro e acolhedor, do outro lado, aqui no meu quarto, eu torcia para você continuar falando, falando e falando por, não sei, seis, sete minutos a mais. É que eu tive medo, entende, medo porque um dia as palavras poderiam faltar, então eu as guardava para determinados momentos, sempre adiando o nosso encontro, o dia em que daríamos as mãos novamente. Acho que por isso que estou te dizendo tudo isso agora, porque as palavras se acumularam, sim, as palavras se acumularam feito livros velhos e empoeirados no fundo da biblioteca de algum lugar por onde acabou de passar um furacão ou um holoucasto, um lugar com muita dor, com muita perda e muita incerteza. Tipo eu, tipo nós.
A segunda coisa é: eu lembro de tudo o que conversamos naquela noite. Por mais patética que eu tenha sido, por mais bêbada, eu estava sendo sincera, ou tentando ser. Eu queria apenas um colo, um colo que só você poderia me dar, e você deu e meu coração conheceu aquele medo de amar mais uma vez. Mas tudo bem, entende, isso sempre foi pouco para mim, o medo, tudo bem, ele foi grande, mas hoje eu consigo compreender que ele foi necessário assim como o nosso primeiro encontro, a nossa primeira briga e o seu primeiro sorriso. O seu primeiro sorriso para mim virou apenas uma lembrança bonita e eu posso resumi-lo agora em três palavras: vontade de continuar.
E a terceira coisa que eu preciso te confessar é: não posso mais te esperar. Não posso, não quero, e se eu esperar vou me arrepender de não ter cortado esse sentimento que me consome de forma impura, cortante, triste, triste, triste, como se tudo tivesse se perdido para sempre. Não posso mais te esperar porque esperar é egoísmo e eu cansei de ser egoísta e adiar todos os dias da minha vida, adiar os meus momentos de felicidade, eu poderia ter sido feliz anos atrás, eu poderia pensar que agora as coisas não estão assim tão ruins, se eu não tivesse esperado e adiado, entende? É como perder o trem. Ou você o perde e se lamenta para o resto da vida, mas então fantasia e narra de forma bonita tudo que poderia ter sido e não foi, todos os dias que poderiam ter nascido e ficaram guardados em uma caixinha de vontade e de saudade. Mas se você consegue subir no trem acaba percebendo que nele não se tem o peso da certeza, que ele balança de dúvidas e que no final acabamos chegando onde queríamos, mas que poderia ter sido muito melhor, que as coisas eram melhores em retratos, em conversas, entende, não quero, não quero, não vou, talvez nunca chegue a acontecer, vamos aceitar.
Que aceitar é reconhecer e entender que certas coisas duram o tempo necessário pra não se tornar apenas parte da imaginação.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Olha,

eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não deixam, você não deixa.

domingo, 14 de março de 2010

Los Hermanos me acalma.
Pronto, disse tudo.

sexta-feira, 12 de março de 2010

20!

Sabe-se que este ser encantador que digita no momento está completando duas décadas de vida.
E eu estou aceitando de presente uma biblioteca, uma viagem pela América do Sul e a reprise de alguns dias.

quinta-feira, 11 de março de 2010

deixa ser como será

De um lado, a xícara de café já frio. Do outro, uma vida que poderia ter sido e foi, por tantos motivos bonitos, quase poéticos.
Ela notou, ao olhar para o dia que dançava por trás da janela, que às vezes o ser humano não quer mais do que pode ter. Quer simplesmente a tranquilidade de nada mais esperar, a tranquilidade de poder dizer sem ter que falar sempre, sem ter que dar inúmeros motivos que, no final de tudo, ninguém nunca compreende mesmo.
É que às vezes dá vontade de seguir em frente como se fosse só um sopro. Uma música do Marcelo Camelo, uma xícara de chá morno, um jardim, um cheiro de terra molhada.
Só, e simplesmente.

terça-feira, 9 de março de 2010

Pausa.

De tudo, de qualquer coisa. Só preciso de uma pausa.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Carta para você

E sabe o que é mais legal? Tanto faz você ler agora ou não. Tanto faz...Porque o que não foi não é.

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E aconteceu mais uma vez.
Engraçado. Existem pessoas que entram na nossa vida de repente e com o mesmo estrépito saem, nos abandonam (ou são abandonadas por nós). Existem pessoas que ficam por um tempo, vão embora e voltam sem causar qualquer sentimento de ódio ou amor. Agora, há pessoas que mudaram a nossa vida de um modo muito intenso. Fizeram parte de algo muito importante. E isso acaba. Porque na vida, tudo acaba. Mas também volta, as pessoas voltam. E quando uma pessoa tão essencial assim reaparece, nosso mundo vira de cabeça para baixo. Não sabemos mais se estamos misturando tudo, se é apenas empolgação. Confusão, pensamentos que pisoteiam o nosso coração, bem lá no fundo mesmo. E dói. Dói pensar que se sente uma coisa que, talvez, não sinta. Mas dói ainda mais quando sentimos o que já sentimos um dia. Dói se o sentirmos com a mesma intensidade, com o mesmo gostinho, a mesma ilusão. Dói, dói mesmo. Sei lá de onde aquela coisa vem. Só sei que vem e pára na garganta. Dá vontade de chorar, de gritar, de se jogar nos braços daquela coisa mais linda, sempre sorrindo para você. Dá vontade de apertar aquela cara meiga e dizer tantas coisas idiotas. [...] É tudo tão complicado...E de repente fica tão simples. Por um lado, as coisas poderiam ser bem fáceis. Eu sei que poderia conseguir ser tudo aquilo que você merece, meu doce garoto. Eu sei que eu conseguiria bater na porta da sua casa e chegar de surpresa....Então, o que me impede? O que me impede de subir em um ônibus e viajar para a sua cidade? Paradoxalmente, o que me impede é você mesmo.
Porque eu sei, eu tenho certeza que vai ser perfeito. Lindo. Meigo. Doce. Fascinante. Perturbador. DESCONCERTANTE! E isso me deixa com tanto, tanto medo!
Só o futuro sabe o que vai acontecer. E só o passado sabe que um dia eu escrevi quase a mesma coisa, sobre mesma pessoa. Apesar de tudo, não consigo sentir nenhuma raiva. Só amor. Do mais intenso e sincero.

Você não se contentou em fazer parte da minha vida. TINHA que se tornar um pedacinho de mim. E eu já não sei se vivo sem...Sem aquele seu sorriso tímido. Sem aquela sua risada linda. Não sei se vou conseguir esquecer os dias que você cantou para mim, os dias que você disse que me queria muito, que me amava.
Estranho mesmo eu gostar tanto assim de você. Meu inevitável. Parece que nunca vai embora, poxa! Acaba sempre voltando!

Pode ser cedo para dizer que eu amo você. Mas não é. Porque já passamos por muitas coisas, não? Pois é, eu amo você. E acho que vou amar pro resto da minha vida.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Carta ao Zézim

Porto, 22 de dezembro de 1979

Zézim,

cheguei hoje de tardezinha da praia, fiquei lá uns cinco dias, completamente só (ótimo!), e encontrei tUa carta. Esses dias que tô aqui, dez, e já parece um mês, não paro de pensar em você. Tou preocupado, Zézim, e quero te falar disso. Fica quietO e ouve, ou lê, você deve estar cheio de vibrações adeliopradianas e, portantO, todo atento aos pequenos mistérios. É carta longa, vai te preparando, porque eu já me preparei por aqui com uma xícara de chá Mu, almofada sob a bunda e um maço de Galaxy, a decisão pseudo-inteligente.

Seguinte, das poucas linhas da tua carta, 12 frases terminam com ponto de interrogação. São, portanto, perguntas. Respondo a algumas. A solução, concordo, não está na temperança. Nunca esteve nem vai estar. Sempre achei que os dois tipos mais fascinantes de pessoas são as putas e os santos, e ambos são inteiramente destemperados, certo? Não há que abster-se: há que comer desse banquete. Zézim, ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): “Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai anda”.

Mais: já pensei, sim, se Deus pifar. E pifará, pifará porque você diz ”Deus é minha última esperança". Zézim, eu te quero tanto, não me ache insuportavelmente pretensioso dizendo essas coisas, mas ocê parece cabeça-dura demais. Zézim, não há última esperança, a não ser a morte. Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado. Tudo é maya / ilusão. Ou samsara / círculo vicioso.

Certo, eu li demais zen-budismo, eu fiz ioga demais, eu tenho essa coisa de ficar mexendo com a magia, eu li demais Krishnamurti, sabia? E também Allan Watts, e D. T. Suzuki, e isso freqüentem ente parece um pouco ridículo às pessoas. Mas, dessas coisas, acho que tirei pra meu gasto pessoal pelo menos uma certa tranqüilidade.

Você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada, fazendo tUdo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a Pobre. Você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religioso. Mesmo. Você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. Que é isso? Tá substituindo a maconha por Jesusinho? Zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem.

Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever? Ou todo mundo te cobra e você acha que tem que escrever? Sei que não é simplório assim, e tem mil coisas outras envolvidas nisso. Mas de repente você pode estar confuso porque fica todo mundo te cobrando, como é que é, e a sua obra? Cadê o romance, quedê a novela, quedê a peça teatral? DANEM-SE, demônios. Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.

Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.

É esse tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço do pato. Que, freqüentemente, é muito caro. Ou você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na CultUra, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci / conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. A você eu amo. Raramente me engano.

Zézim, remexa na memória, na infância, nos sonhos, nas tesões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente: é lá que está o seu texto. Sobretudo, não se angustie procurando-o: ele vem até você, quando você e ele estiverem prontos. Cada um tem seus processos, você precisa entender os seus. De repente, isso que parece ser uma dificuldade enorme pode estar sendo simplesmente o processo de gestação do sub ou do inconsciente.

E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente.

Ou então vá fazer análise. Falo sério. Ou natação. Ou dança moderna. Ou macrobiótica radical. Qualquer coisa que te cuide da cabeça ou/ e do corpo e, ao mesmo tempo, te distraia dessa obsessão. Até que ela se resolva, no braço ou por si mesma, não importa. Só não quero te ver assim engasgado, meu amigo querido.

Pausa.

Quanto a mim, te falava desses dias na praia. Pois olha, acordava às seis, sete da manhã, ia pra praia, corria uns quatro quilômetros, fazia exercícios, lá pelas dez voltava, ia cozinhar meu arroz. Comia, descansava um pouco, depois sentava e escrevia. Ficava exausto. Fiquei exausto. Passei os dias falando sozinho, mergulhado num texto, consegui arrancá-lo. Era um farrapo que tinha me nascido em setembro, em Sampa. Aí nasceu, sem que eu planejasse. Estava pronto na minha cabeça. Chama-se Morangos mofados, vai levar uma epígrafe de Lennon & McCartney, tô aqui com a letra de Strawberry fields forever pra traduzir. Zézim, eu acho que tá tão bom. Fiquei completamente cego enquanto escrevia, a personagem (um publicitário, ex-hippie, que cisma que tem câncer na alma, ou uma lesão no cérebro provocada por excessos de drogas, em velhos carnavais, e o sintoma — real — é um persistente gosto de morangos mofados na boca) tomou o freio nos dentes e se recusou a morrer ou a enlouquecer no fim. Tem um fim lindo, positivo, alegre. Eu fiquei besta. O fim se meteu no texto e não admitiu que eu interferisse. Tão estranho. Às vezes penso que, quando escrevo, sou apenas um canal transmissor, digamos assim, entre duas coisas totalmente alheias a mim, não sei se você entende. Um canal transmissor com um certo poder, ou capacidade, seletivo, sei lá. Hoje pela manhã não fui à praia e dei o conto por concluído, já acho que na quarta versão. Mas vou deixá-lo dormir pelo menos um mês, aí releio — porque sempre posso estar enganado, e os meus olhos de agora serem incapazes de verem certas coisas.

Aí tomei notas, muitas notas, pra outras coisas. A cabeça ferve. Que bom, Zézim, que bom, a coisa não morreu, e é só isso que eu quero, vou pedir demissão de todos os empregos pela vida afora quando sentir que isso, a literatura, que é só o que tenho, estiver sendo ameaçada como estava, na Nova.

E li. Descobri que ADORO DALTON TREVISAN. Menino, fiquei dando gritos enquanto lia A faca no coração, tem uns contos incríveis, e tão absolutamente lapidados, reduzidos ao essencial cintilante, sobretudo um, chamado "Mulher em chamas". Li quase todo o Ivan Ângelo, também gosto muito, principalmente de O verdadeiro filho da puta, mas aí o conto-título começou a me dar sono e parei. Mas ele tem um texto, ah se tem. E como. Mas o melhor que li nesses dias não foi ficção. Foi um pequeno artigo de Nirlando Beirão na última IstoÉ (do dia 19 de dezembro, please, leia), chamado "O recomeço do sonho". Li várias vezes. Na primeira, chorei de pura emoção - porque ele reabilita todas as vivências que eu tive nesta década. Claro que ele fala de uma geração inteira, mas daí saquei, meu Deus, como sou típico, como sou estereótipo da minha geração. Termina com uma alegria total: reinstaurando o sonho. É lindo demais. É atrevido demais. É novo, sadio. Deu uma luz na minha cabeça, sabe quando a coisa te ilumina? Assim como se ele formulasse o que eu, confusamente, estava apenas tateando. Leia, me diga
o que acha. Eu não me segurei e escrevi uma carta a ele dizendo isso. Não sou amigo dele, só conhecido, mas acho que a gente deve dizer.

Escrevendo, eu falo pra caralho, não é?

Aqui em casa tá bom. É sempre um grande astral, não adianta eu criticar. O astral ótimo deles independe da opinião que eu possa ter a respeito, não é fantástico? A casa tá meio em obras, Nair mandou construir uma espécie de jardim de inverno nos fundos, vai ligar com a sala. Hoje estava pUta porque o Felipe não vai mais fazer vestibular: foi reprovado novamente no 3º colegial. Minha irmã Cláudia ganhou uma Caloi 10 de Natal do noivo (Jorge, lembra?), e eu me apossei dela e hoje mesmo dei voltas incríveis pelo Menino Deus(?). Márcia tá bonita, mais adultinha, assim com um ar meio da Mila. Zaél cozinhando, hoje faz arroz com passas para o jantar.

Povos outros, nem vi. Soube que A comunidade está em cartaz ainda e tenho granas pra receber. Amanhã acho que vou lá.

Tô tão só, Zézim. Tão eu-eu-comigo, porque o meu eu com a família é meio de raspão. Tá bom assim, não tenho mais medo nenhum de nenhuma emoção ou fantasia minha, sabe como? Os dias de solidão total na praia foram principalmente sadios.

Ocê viu a Nova? Tá lá o seu Chico, tartamudeante, e uma foto muito engraçada de toda a redação — eu com cara de "não me comprometam, não tenho nada a ver com isso". Dê uma olhada. Falar nisso, Juan passou por aqui, eu tava na praia, falou com Nair por telefone, estava descendo de um ônibus e subindo noUtro. Deixou dito que volta dia três de janeiro ou fevereiro, Nair não lembra, pra ficar uns dias. Ficará? E nada acontecerá. Uma vez me disseram que eu jamais amaria dum jeito que "desse certo", caso contrário deixaria de escrever. Pode ser. Pequenas magias. Quando terminei Morangos mofados, escrevi embaixo, sem querer, "criação é coisa sagrada”. É mais ou menos o que diz o Chico no fim daquela matéria. É misterioso, sagrado, maravilhoso

Zézim, me dê notícias, muitas, e rápido. Eu não pensei que ia sentir tanta falta docê. Não sei quanto tempo ainda fico, mas vou ficando. Quero escrever mais, voltar à praia, fazer os documentos todos. Até pensei: mais adiante, quando já estivesse chegando a hora de eu voltar, você não queria vir? A gente faria o mesmo esquema de novo, voltaríamos juntos. A família te ama perdidamente, hoje pintaram até uns salseirinhos rápidos porque todo mundo queria ler a matéria do Chico ao mesmo tempo.

Let me take you down
cause I’m going to strawberry fields
nothing is real, and nothing to get hung about
strawberry fields forever
strawberry fields forever
strawberry fields forever


Isso é o que te desejo na nova década. Zézim, vamos lá. Sem últimas esperanças. Temos esperanças novinhas em folha, todos os dias. E nenhuma, fora de viver cada vez mais plenamente, mais confortáveis dentro do que a gente, sem culpa, é. Let me take you: I’m going to strawberry fields.

Me conta da Adélia.

E te cuida, por favor, te cuida bem. Qualquer poço mais escuro, disque 0512-33-41-97. Eu posso pelo menos ouvir. Não leve a mal alguma dureza dita. É porque te quero claro. Citando Arantes, pra terminar: "Eu quero te ver com saúde I sempre de bom humor I e de boa vontade".

Um beijo do

Caio

PS — Abraço pro Nello. Pra Ana Matos, e Nino também.






Do meu, querido, Caio Fernando Abreu.

Tempo

O caminhar torto dos ponteiros a me perseguir. Por vezes a leve brisa (des)encadeia lembranças de dias vindouros, e o silêncio de uma página em branco começa a gritar…

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Papinho com Lispector e.

Suplicava, inconscientemente, para que aquela noite tumultuada fosse embora. Queria que ela acabasse como uma peça de teatro. Seria tão mais fácil. As cortinas deslizariam e esconderiam todo aquele medo, toda aquela angústia pisoteada. Ela nunca fora boa com essas coisas que costumavam chamar de...amor? Seria essa a palavra? Não importava mais, de qualquer forma.
Seu coração quase saltou para fora quando percebeu que talvez tivesse se encontrado, como se entendesse tudo o que estava sentindo (ou achando que estava sentindo, era quase a mesma coisa). Ou como se entendesse essa sua confusão.

-Noite difícil?
-Talvez eu não queria falar sobre isso.
-É, eu sei que você não gosta de falar sobre isso. Conheço esse seu coração orgulhoso, olhos castanhos.
-Meu coração não é orgulhoso! Muito pelo contrário.
-Isso não vai funcionar comigo. Apenas admita que é diferente desta vez.
Entrelaçou os dedos e balançou a cabeça. Ninguém podia imaginar como cada fibra do seu ser dóia quando ela admitia o que procurava esconder todos os momentos da sua vida.
-Tudo bem, tudo bem! É diferente desta vez, mas isso não muda absolutamente nada.
-Mas é claro que muda. Nós temos uma coisa em comum: gostamos do diferente, do distante, do desafio. E ele é, para você, uma linda melodia desafinada! Você mal consegue dormir à noite porque, aonde quer que você vá, você escuta a música que vem dele. Estou errada?
-Não, não está errada.
-Então, faça alguma coisa.
Por Deus! Aquilo já era demais. Não era porque ela cutucava seu 'eu' que ela poderia falar e fazer o que bem entendesse. Não podia! Não podia! Doía demais imaginar como poderia ter sido. Passava noites em claro imaginando o que poderia ter falado (ou calado), o que poderia ter feito. Como as coisas seriam diferentes se ela não tivesse essa mania terrível de fugir do que lhe interessava, ou até mesmo fingir que não interessava.
-E você acha que eu não estou fazendo nada? Não seja patética!
-Ser patética faz parte, querida! Não tenha medo! Tanto medo assim só a levará para longe do que você realmente quer.
-Não me importa. Eu quero, mas não preciso. Essa é a diferença!
-É claro que você não precisa dele. Nós duas não precisamos de ninguém. Mas nós não podemos dizer não sempre. Alguma hora nós precisamos ceder.
-Ceder para quem?
-Ceder pra você mesma. Ceder para isso que você sente dentro do peito. Ceder para essa dor que está entalada na sua garganta, implorando para sair e respirar. Nós não temos todo o tempo do mundo, olhos castanhos. Não o desperdice.
-Não há mais nada que eu possa fazer. Certo, talvez eu possa fazer alguma coisa, mas ainda não sei o que é.
-Pense a respeito, olhos castanhos. Estarei por perto, se algo der errado novamente.
-Nunca duvidei disso.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

.

Obrigada pelo olhar firme, desconcertante, cheio de (in)certeza.

O dia até mudou de cor ;)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Eu que sempre fui tão senhora de mim, sempre precisei provar que não preciso de ninguém pra me sentir completa, me encontro tão nescessária.
Me deparo urgente de mim e veja só, aos que acham que a vida é uma ciência exata, provo como sou um paradóxo:

Ou vivo intensamente, ou vou levando essa rotina que não incomoda, não interfere, não fere, mas também não é muito vida. Vou dispensando tudo o que não julgo suficiente pra me roubar a solidão, ora, pra isto eu mesma me basto. Vou excluindo do meu convívio todos que não parecem prontos pra marcar meu dias, e vou agregando aqueles que me parecem suficientes. E vou me excluindo um pouquinho também, vou me dispensando sem pudores, porque é mais fácil me deixar de lado do que lidar com a minha falta de coerência.
Quanto mais aprendo sobre mim, mais boicoto meus conhecimentos. Quero contradizer todas as afirmações que faço lutando para entender o que se passa em mim. Não devo ser tão complicada, mas calculo que os sentimentos que divido com toda mulher sirvam como base pra decidir tudo na minha vida. Indecisões são capazes de preencher meu dia, mudar minha vida, rosolver a direção do meu humor. Possibilidades tentam perfurar meu estômago, atravessar meu corpo, tentam me destruir antes mesmo de terem permissão para acontecer.

Estou ficando morna de tanto não me permitir ir além, de tanto calcular meus passos, me esconder em falsa timidez, evitar sentimentos, evitar relacionamentos, evitar gente só por ser gente e pela possibilidade de alguma coisa dar errado. Posso correr o risco de dar certo?

Estou prestes a mergulhar.


Adaptado: Verônica H.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Veja bem

eu preciso parar de sabotar o meu próprio sono. eu tenho que comprar meias novas. preciso voltar a ler mais e parar com a desculpa do tempo. tem aquele Rubem Braga me esperando na cabeceira. mas ah – que preguiça. aliás, eu bem que precisava parar de ter preguiça. eu já perdi boas estradas por causa dela. e olha, eu aprendi que atalhos costumam ser mais solitários. e eu tenho que parar de não querer falar. de pensar no futuro. de amar tanto assistir séries com eles. porque não é que eu ache que uma hora a gente acabe, mas uma hora as temporadas acabam, entende? e o que é que acontece com essa coisa que eu amo? a gente substitui pra não doer.

eu preciso parar de substituir.

eu precisava tanto de uns abraços no meio da noite. quero parar de me preocupar com o que vão entender do que eu falo ou escrevo – porque às vezes pode ser que eu nem queira que seja algo entendível. ou pode ser que eu só queira pirar a cabeça das outras pessoas, pra ver se eu fico um pouco mais parecida com elas. eu queria parar meus pensamentos por alguns segundos. porque eles borbulham a mil graus celsius que chega a dar pontadas e no fim dói. eu preciso relaxar mais. preciso emagrecer. um spa era uma boa. mas spa? e eu só tenho quase-20-anos.

ih, eu tenho que ler mais jornal. eu preciso escrever uma carta. mas quer saber? eu não escrevo porque estou com vergonha ou ressentimento – não decidi ainda. vergonha ou ressentimento do destinatário. não era pra ele saber. desconfiar, tudo bem. mas saber do que eu falava, não, não era pra ele saber. mas ele sabia e fingiu que não sabia. viu que aquilo me machucava e nem sequer insistiu pra que eu contasse o tal segredo. sabe por quê? é que ele sabia. e sabia quão secreto deveria ser aquele assunto e não era. você sabe, segredos precisam ser contados ou então a gente explode e os restos grudam na parede.

eu precisava escrever uma segunda carta. mas não vou porque eu tenho um pouco, um puquinho só que seja, de orgulho – ou é mais vergonha? sabe você não entende, eu tinha que escolher. era um futuro versus um passado. situações completamente diferentes, mas era um futuro que eu realmente acreditava. não sei quão chateado você ficou, mas saiba que você era o melhor amigo que uma menina poderia ter tido nauqela fase de adolescente. porque dizer “eu-vou-tirar-isso-de-mim” é a loucura mais gostosa. mas sabe, outro whatever pra tudo isso.

porque eu preciso relaxar. e parar de pensar um pouco. preciso parar de ter nós na garganta quando escrevo. preciso aceitar que nem tudo é como eu quero que seja. e eu sei disso desde o quê, uns 12 anos de idade. mas não adianta saber se eu não faço o negócio funcionar. porque me forçar a não beber café não ajuda – o negócio é bem mais inlembrável que isso. ih, preciso treinar minha memória. eu preciso parar de reclamar da minha coluna e voltar a fazer exercícios físicos. o médico falou que se eu continuar assim vou ter vou ser torta pro resto da vida – e não é isso o que eu quero, certo? porque já incomoda bastante assim, desse jeito, com quase-20-anos. dançar faz doer menos. quero dançar a noite inteira. eu quero um samba pra me aquecer, quero algo pra beber. eu odiava samba, e odiava beber, odiava mesmo, mas samba e vinho vão ser sempre o enredo daquela temporada.

eu amo vinho.

alguma coisa precisa ser feita. porque eu não consigo dormir essa noite. e na anterior. e na outra e na outra. sabe, eu gosto mesmo de dormir. gosto, sim. daí vem toda essa cachoeira berrante de idéias idiotas e lembranças e planos e futuro e passado e presente e. será que ele já dormiu?

eu tenho que ser mais tolerante. a questão agora é que direito e cênicas são coisas bem diferentes. com que cabeça eu vou entrar lá? que tipo de gente vou encontrar? vou sair de um lugar onde há amadorismo e livros e práticas complexas, vou pegar o ônibus e vou ter minhas horas de reclamações e leis e teorias. e talvez eu ame muito isso. talvez eu odeie. talvez eu seja uma negação para defender – na verdade eu já tenho quase certeza disso. talvez finalmente descubra que não sei mesmo o que quero da vida. eu já tenho quase-20-anos, meu deus do céu. o que diabos eu quero da vida?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

lembra daquela primeira vez em que você olhou nos meus olhos?
lembra da maneira como você me segurou pelo braço?
lembra de quando sentamos e você falou das minhas mãos?
lembra daquele seu desenho?
lembra quando você disse "não acredito que você existe"?
lembra se eu contei meus pensamentos?
lembra como você me colocou no "colo" e me abraçou tanto tanto tanto?
lembra das músicas que eu gravei pra você?
lembra a reação da nossa amiga?
lembra quando ficamos acordados a noite toda só pra ficarmos juntos?
lembra como rimos disso na manhã seguinte?
lembra você descobriu aquela brecha no seu trabalho?
lembra como eu achava engraçado você dizer 'insano'?
lembra quando fomos no teatro e não tinha nenhuma peça pra assistir?
lembra que eu fiquei decepcionada e você me levou pra outro lugar ainda melhor?
lembra como você gostava que eu usasse aquelas roupas simples?
lembra quando você me fazia dormir?
lembra do caminho longo que fizemos até o apartamento?
lembra que eu não lembrava o caminho?
lembra que eu não queria entrar e não queria que você fosse?
lembra quando eu ouvia "sutilmente" do Skank só pra te aprender?
lembra de quando você me chamou daquela forma só nossa na frente de todo mundo?
lembra quando você pediu um suco pra mim e eu não pude tomar?
lembra do meu sorriso?
lembra da de como você ficou envergonhado e se sentindo culpado?
lembra de quando você me levou àquele lugar e de como você me conduzia?
lembra do quanto eu gostava daquilo?
lembra a primeira vez que fiquei sem falar com você?
lembra como você sentou do meu lado, disse pra eu olhar no seu rosto, e passei horas te ouvindo?
lembra quando você decidiu ser subliminar e eu fingi não entender?
lembra quando eu decidi enfim confessar e você não entendeu?
lembra que você parou e disse que era uma grande burrice?
lembra como eu não conseguia parar de chorar?
lembra que depois dessa briga prometemos levar tudo mais tranqüilamente?
lembra como isso era um eufemismo?
lembra a forma como você fingia sentir ciúmes?
lembra que eu te contava sobre os garotos só pra te ver interpretar?
lembra quando nós sorriamos de felicidade?
lembra quando eu brigava com você por faltar às aulas?
lembra como eu queria ter ficado mais contigo?
lembra como você fazia drama?
lembra das vezes em que você repetia aquele velho clichê só pra me fazer acreditar?
lembra que eu sempre recusava, mas acabava cedendo?
lembra da galera na avenida?
lembra o quanto éramos impossíveis um para o outro?
lembra quando você me contou que tinha falado de mim para as pessoas de sua convivência?
lembra como eu fingi acreditar?
lembra quando brigamos e você me contou que se arrependeu?
lembra como a história do filme se parecia com a nossa?
lembra quando você se explicou com o intúito de me convencer que era inocente?
lembra como eu fui inocente?
lembra quando você não quis se despedir só pra não me ver partir?
lembra como eu não queria partir?
lembra do meu cheiro?
lembra dos meus olhos?
lembra quando eu senti frio e você me deu sua blusa?
lembra como gostava da expressão no seu rosto?
lembra dos bilhetes que eu te mandava enquanto você trabalhava?
lembra de nós, afinal?
lembra?

eu lembro tanto, tanto. que às vezes arde.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Pra te acompanhar

Nós nunca achamos que essas coisas vão acontecer com nós. Sempre carregamos aquela certeza egoísta (eu digo egoísta porque ter certeza de alguma coisa é privar-se de conhecer a opção B) e nos agarramos ao ideal de pessoas legais, festinhas onde todos gostam de nós e notas boas na faculdade.
Mas isso é o resto, caros leitores.
E o resto não muda nada. Absolutamente nada. 'O que me sobra além das coisas casuais' é muito mais que o dia de hoje, muito mais que as decepções que pisoteiam minha consciência. Ah, besteira qualquer, vai passar tão rápido quanto chuva de verão...Mas e até lá?
A saudade não vale a pena, nem as desculpas, nem os argumentos. O que foi já é, e agora? Agora eu aceito os tapas da vida, deixo fazer parte do meu show e espero. Espero porque, de fato, não há muito para se fazer.
Mas sabe se uma coisa?

Às vezes nós ganhamos ao perder.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Pode ser do vento vir

Olha, eu sei que a maré está difícil, mas eu queria te pedir pra não parar de remar, porque ver você remando me dá vontade de remar também.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Motivo mais não há

O ser humano é sujo, podre, e falso quando quer.
Dane-se.


Só sei que ninguém é obrigado a ficar ouvindo chilique alheio.
Simples.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Conclusão durante um café

Eu queria mesmo perder essa timidez feia, dolorida. Queria poder soltar um: e aí, certinho? Poder andar decidida e fazer alguma coisa, como nos filmes. Mas, colega, vou te dizer uma coisa:a vida não é um filme. É um comercial chato de margarina. E nem sempre acaba como queremos.
Que seja. Quem sou eu para questionar a nossa existência?
Mal consigo lidar com as minhas próprias neuroses.
E é ridículo mesmo. Ridículo precisar tanto ouvir essa sua voz, admirar esse sorriso perdido e perturbar a minha paz com o seu andar...

Essas coisas são complicadas demais.
Daqui a pouco eu desisto.
Juro.


(mentira)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba

As minhas neuroses por aqui são sempre constantes e creio que isso salva muita gente e me faz manter algumas amizades, porque não é muito fácil ser eu, querer ser eu, deixar de ser eu, entende? É tempo de me fazer, eu sei. Não sei se acho muito coerente fazer uma retrospectiva, mas vamos lá..

1. Loucura do primeiro semestre
Eu deixei de existir, passei a viver. Juro. Vivi uns dez anos em cinco meses. Fiz de tudo. Tá, quase tudo, ou quase nada, depende do ponto de vista, né? Mas arrisquei. Não só falei como também disse. Perdi o medo, eu era só coragem. Parei de me importar demais com as reações; as ações me pareciam mais interessantes, de qualquer forma. Conheci pessoas que inexplicavelmente mudaram muitas coisas em mim, e que ainda estão aqui. Aprendi - mesmo de forma patética - a manter amizades bonitas e amores complexos. Amizades bonitas que me fazem entender essa coisa dos amores complexos. É.
Liguei quando eu quis, atendi quando achei que era conveniente. Bebi (chá), dancei, dei risada, chorei, não me arrependi.
Não me arrependi.

2. Amizades bonitas
Fazer amizades nunca foi difícil para mim. Na verdade, sempre foi mais difícil saber quais realmente valiam a pena. Pois é. Mas aprendi muitas coisas esse ano, em relação a isso, entende. Aprendi a perdoar e percebi que eu posso sim ligar às três da madrugada para dizer coisas que não faziam sentido algum, e depois chorar, e chorar como se tal atitude fosse resolver alguma coisa. Compreendi que o pouco é sempre melhor que o muito, e isso me fez bem porque, você sabe, eu não sei lidar com muita pressão. E nem quero saber.
Passei noites sem dormir, inventei mil e uma maneiras de rir da mesma coisa, por mais ridículo que isso possa parecer, fiz tantos tantos programas de fossa que seria quase impossível falar de todos aqui; mas eles se resumem a coque no cabelo, vinho, pijama e ligações noturnas para pessoas que considerávamos - ou consideramos - importantes.
Acho feio agradecer por receber amor. É um pouco desesperado, não é não? Mas não importa. Quero agradecer por ter encontrado pessoas que, de uma forma ou de outra, completaram um vazio que eu tinha há tempos e isso já bastou para o meu ano ter valido a pena.

3. Amores complexos
Certeza que você deve estar pensando que essa será a parte mais interessante e eu só posso te dizer, meu caro leitor, que não é não. Essa, acredito, é a parte mais patética e colorida-dolorida. Desperdicei(?) o grande amor da minha vida. É. Mas não sei se passou ou se ainda pode ser, entende, de verdade, já que ficamos tanto tempo juntos e o amor ainda existe em nossos corações. Aprendi que se não resta amor não resta mais nada, nem decepção, só um grande buraco vazio de indiferença. Mas, calma, não é assim tão cruel. Tive os meus momentos de garota-desesperada-que-encontra-no-amor-a-única-chance-de-ser-feliz-e-de-se-sentir-bem e os guardo com muito carinho aqui dentro, nesse coração doente de tanto amar errado. É sim. Não é drama. E não, não estou enfeitando as palavras. É a verdade. Aprendi a conhecer pessoas novas e também a manter relações antigas, e não sei dizer bem ao certo se isso foi correto ou não.
Lembranças de 2008 ainda me perseguem, e acho um pouco difícil eu dizer não a elas, entende, mesmo que um dia eu tenha que partir para longe, não vai ser hoje, nem amanhã, nem depois, talvez foi ontem e eu não percebi. Agora vou ter que aguentar. Mas nem é assim tão ruim. Sobrou muita coisa linda dele, e eu as guardo com tanto tanto amor e uma vontade besta de voltar.
Uma vontade besta de voltar, sempre.
Fiz loucuras. Ah, fiz loucuras. Peguei um ônibus e fui para outra cidade tentar resolver uma história e nada tive em troca. Ou tive, mas não o que eu esperava. Ah, quem eu quero enganar? É claro que eu tive. Vivi alguns momentos tão lindos que me dói até agora. Juro. Mas nada mais posso dizer a respeito. É que as palavras acabam traindo o que a gente sente, sempre, sempre.
Mas acho que agora estou livre. Tão livre que essa liberdade me consome por eu não saber o que fazer exatamente com ela; e eu me sinto patética, estática, perdida, com o mundo nas mãos e quase nada no coração. Mas isso passa, passa sim, e se não passar eu vou poder ter a certeza de que um dia nós tentamos. Meras tentativas. Mas doces. Sempre doces, inegáveis, lindas feito um sopro no verão. Enfim, nada se concluí por aqui, tudo é um grande livro a ser escrito e, sinceramente, estou achando que isso me faz mais bem do que mal, e é por isso que eu estou aqui, dando risada das coisas que eu fiz, das ligações que eu não atendi, das coisas que eu disse sem querer dizer e das que ouvi sem querer ouvir. Ou das coisas que eu deixei de dizer por medo e das coisas eu disse por simplesmente não poder mais guardar para mim.
Só deixo aqui registrado que a anda sobrando falta e que eu, infelizmente, não posso esperar para sempre. Quando existe amor não há como esperar muito tempo. Entenda como quiser.

4. Um pouco de Fernanda
Sempre um pouco de Fernanda, até mesmo antes de virar muito de Fernanda. Quantas neuroses, gzuis. Quantos dramas, quantas noites sozinhas e quantas noites acompanhadas. Ah, quanta vontade desperdiçada, quanto amor jogado fora, quantas coisas para serem ditas que se perderam de mim. Quantas vezes eu desisti sem nem ao menos tentar, quantas vezes eu tentei por medo de desistir. Quantas certezas permiti sentir. E o medo de ceder? Fui perseguida por ele. Mas consegui fugir em alguns momentos, e isso fez valer a pena.
Acabei descobrindo que eu ainda não sei quem eu quero ser. Sei, na verdade, mas quero que isso permaneça em constante mudança porque é essa a graça da vida, entende, e é isso que me faz querer estar sempre lendo, aprendendo, ouvindo as músicas certas, conhecendo pessoas interessantes, esperando para descobrir aquilo que eu nem sei ainda o que é, querendo deixar de sentir falta de alguma coisa, querendo permitir mais e desistir menos.
Esse ano eu compreendi muitas coisas dentro de mim; olhar mais para dentro, menos para fora.
Olhar mais para dentro, menos para fora.



Tchau 2009, você quase me deixou doente de tanta loucura, mas acho que sobrevivi.
É, sobrevivi.
E tudo isso é uma vontade imensa (e inconstante) de continuar.