Suplicava, inconscientemente, para que aquela noite tumultuada fosse embora. Queria que ela acabasse como uma peça de teatro. Seria tão mais fácil. As cortinas deslizariam e esconderiam todo aquele medo, toda aquela angústia pisoteada. Ela nunca fora boa com essas coisas que costumavam chamar de...amor? Seria essa a palavra? Não importava mais, de qualquer forma.
Seu coração quase saltou para fora quando percebeu que talvez tivesse se encontrado, como se entendesse tudo o que estava sentindo (ou achando que estava sentindo, era quase a mesma coisa). Ou como se entendesse essa sua confusão.
-Noite difícil?
-Talvez eu não queria falar sobre isso.
-É, eu sei que você não gosta de falar sobre isso. Conheço esse seu coração orgulhoso, olhos castanhos.
-Meu coração não é orgulhoso! Muito pelo contrário.
-Isso não vai funcionar comigo. Apenas admita que é diferente desta vez.
Entrelaçou os dedos e balançou a cabeça. Ninguém podia imaginar como cada fibra do seu ser dóia quando ela admitia o que procurava esconder todos os momentos da sua vida.
-Tudo bem, tudo bem! É diferente desta vez, mas isso não muda absolutamente nada.
-Mas é claro que muda. Nós temos uma coisa em comum: gostamos do diferente, do distante, do desafio. E ele é, para você, uma linda melodia desafinada! Você mal consegue dormir à noite porque, aonde quer que você vá, você escuta a música que vem dele. Estou errada?
-Não, não está errada.
-Então, faça alguma coisa.
Por Deus! Aquilo já era demais. Não era porque ela cutucava seu 'eu' que ela poderia falar e fazer o que bem entendesse. Não podia! Não podia! Doía demais imaginar como poderia ter sido. Passava noites em claro imaginando o que poderia ter falado (ou calado), o que poderia ter feito. Como as coisas seriam diferentes se ela não tivesse essa mania terrível de fugir do que lhe interessava, ou até mesmo fingir que não interessava.
-E você acha que eu não estou fazendo nada? Não seja patética!
-Ser patética faz parte, querida! Não tenha medo! Tanto medo assim só a levará para longe do que você realmente quer.
-Não me importa. Eu quero, mas não preciso. Essa é a diferença!
-É claro que você não precisa dele. Nós duas não precisamos de ninguém. Mas nós não podemos dizer não sempre. Alguma hora nós precisamos ceder.
-Ceder para quem?
-Ceder pra você mesma. Ceder para isso que você sente dentro do peito. Ceder para essa dor que está entalada na sua garganta, implorando para sair e respirar. Nós não temos todo o tempo do mundo, olhos castanhos. Não o desperdice.
-Não há mais nada que eu possa fazer. Certo, talvez eu possa fazer alguma coisa, mas ainda não sei o que é.
-Pense a respeito, olhos castanhos. Estarei por perto, se algo der errado novamente.
-Nunca duvidei disso.
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