quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pode ser da vida acostumar.

Há uma tempestade acinzentada lá fora.
Pela vidraça escorrem lúgubres memórias do tempo que tive.
A lufada das horas carrega-me, insossa, por caminhos ritmados.
Os meus pés, descalços, sentem a tortura dos papéis amarrotados.
Chove. Diria-me qualquer poeta amigo que é este
O momento de desaguar-me em metáforas previsíveis
E regozijar-me em metonímias infindas.
Sinto muito: esta noite não voltarei a escrever ainda.
Permaneço no incauto do meu subterfúgio.
Estarreço! Toco-me… sim, sou eu ainda…
Sou eu: a essência do poeta que não fui
E só.
Embora relegada, vazia, manchada com o arco-íris negro
Do tinteiro caído sobre a mesa,
Sou eu… sou minhas memórias… sou a pilha de papel amarelecida na estante.
E só.

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