quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Procuro nos búzios e no horóscopo o resto da minha dignidade. Tento ser mais cética, mais durona, mas sou totalmente tendenciosa quando alguma coisa diz que eu posso ser feliz. É sempre mais fácil culpar o autosabotamento com signos do zodíaco ou algo que se preze, do que entender que você, independente de onde marte esteja neste exato momento, gosta de arrancar as próprias penas apenas para ver aonde dói.


Gosta de se cutucar para ver aonde sangra, aonde incomoda, que parte do seu corpo sente mais falta dele, em que momento do dia você perde a razão, fica sem ar, o porquê grita tanto internamente ao ponto que se deita exausta de tanta coisa que é sua, mas que você não sabe lidar, e por isso é fácil apelar para o impalpável e para todas as superstições existentes para que tirem a culpa que você carrega de querer tanto ser como os outros, mas não é.
 
 
By: Dinha..

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Meu presente de natal pra vocês (porque não faz mal a ninguém haha)

O céu estava cor de tarde vazia. Um bafo quente deslizava entre as pessoas que andavam pelas ruas frias da pequena cidade. Os rostos delas pareciam confundir-se em uma só palavra: desespero. Havia angústia em cada piscar de olhos, havia medo de perder o que não se tinha, havia falta de sentimento, de atenção. Nada havia, naquele dia sem gosto de, bem, dia.
Os passos sujos, largos e individuais quase calaram a voz da menina. Mas ela não desistiu. Ajeitou-se em seu vestidinho sujo, que um dia fora cor de pérola e apertou mais forte a mão do único homem que ela amara até então.
Seu papai.

-Papai, o que é a dor? - murmurou, lançando um olhar apreensivo ao homem magro, que nunca deixara o chapéu verde-oliva em casa.

-Filha, pelo amor que tem em mim! Sem perguntas. Não vê que estamos no centro da cidade? E que essa multidão está nos levando ao caos?

Ela calou-se. Nunca fora desobediente em toda a sua vida.
Mentira. Houve aquela vez.
Quando subiu em uma árvore enorme, que ficava em frente a casa de sua avó. Ah, a vovó! Fazia os melhores bolinhos de açúcar do mundo. E cantava como um anjo, era o que diziam.
Mas isso pareceu não importar muito quando a pequena garota caiu da árvore e quebrou a perna esquerda. Além disso, ganhou duas cicatrizes (uma na mão e outra na canela). Ficara tão feliz naquela tarde quente de verão! Para quem não sabe, quanto o maior número de cicatrizes, maior seu grau de coragem. Ter cicatrizes significava sobrevivência.
Realmente, era para poucos.
Mas, fora aquele dia, nunca mais ousou testar o limite dos pais. Não por e sim por saber que eles não mereciam tanto aborrecimento.
Infelizmente, eram dias difíceis aqueles. Se não bastasse o racionamento de alimentos por causa da guerra, ainda havia o constante medo de não conhecer o final daquela triste história.
Triste, mas era um final. E todos nós precisamos saber o final.
O final é essencial para a nossa consciência. Nosso livre pensar.
O pai apertou a mão da pequena com mais força e a puxou para o outro lado da rua.

-Querida! Olhe por onde anda. Quase foi atropelada. Por Deus! Está sempre com a cabeça nas nuvens.

-Talvez seja melhor, papai.
O pai teve que sorrir; era um comentário tão doce, tão inteligente para uma menina que vivia em meio a tanta violência e sofrimento.

Ele cumprimentou o dono da padaria com um aceno discreto. Nunca fora a pessoa mais simpática do mundo, mas todos sabiam que ele era capaz de notar os mais nobres sentimentos.

E ele não apenas notava. Ele os sentia.

-Papai - ela começou a dizer; as perguntas simplesmente mordiam sua língua, tinham como afã a liberdade de uma dúvida esclarecida - Por que essas pessoas estão jogadas na rua? Olhe só! Aquele menino tem a minha idade, papai.

O pai respirou fundo e continuou a andar. Passos doloridos que recitavam uma resposta silenciosa:
Não vou responder a nenhuma pergunta que minha filha me fizer sobre esse assunto.
Você me perguntará o motivo.

Dar-te-ei dois:

1- Não sei por onde começar;


2- Vai doer. Em nós dois.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Meu sorriso de criança...

Meu passado imaginário
Meu sorriso de criança
Meus segredos de diário,
Trago tudo na lembrança
Guardo num sonho inventado
Como se fosse verdade
Um coração disparado
Cativo da liberdade
Tantas vontades contidas
Princesa tão mal vestida
Aquela boneca bonita
Que nunca se teve na vida
Um livro de poesia
Na cabeceira da cama
Faz-de-conta de alegria
Fingindo alguém que ama
A vida em estrelinhas
De um brilho artificial
Menina namoradinha
Do belo poeta imortal
Dou adeus a minha infância
Arco-iris pintado à mão
São restinhos de esperança
que voando longe se vão...



Duxs.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ela não olhava para ninguém, e não dava satisfações. Havia se fechado para qualquer possibilidade de ser uma mulher-que-encontra-o-amor-verdadeiro ou de ser uma mulher-que-vive-aquilo-que-ela-acha-que-é-o-amor-verdadeiro.
Suas caminhadas eram coloridas, e não doloridas. Negava-se a sofrer, a se encantar demais com qualquer coisa que fosse... É. O ser dela não era de flor, era de faca.
Mas naquela tarde de quase-verão ela fez duas escolhas que mudariam a sua vida para sempre: reparar no que sempre estivera ali e sorrir.
Sentindo uma fraqueza mais parecida com ilusão ela foi para casa pensando naquele par de olhos verdes.


Ah, aquele par de olhos verdes!

Tô cantando


Ter quase vinte anos é assustador. Quero dizer, é uma idade de peso (pelo menos teoricamente). É quando podemos começar a realizar os nossos sonhos...Sonhos de uma vida inteira! E que medo que bate na porta...Medo de perder a vontade!
Quando eu tinha meus quinze anos não fazia idéia da dificuldade que é poder fazer suas próprias escolhas, construir seu próprio caminho. E tudo isso moldando aquela pessoa que você sempre quis ser. É engraçado pensar nas coisas que permaneceram a mesma coisa. A gente acaba aprendendo que há uma infinidade de tipos de amigos. Os que aparecem e vão embora rapidamente, os que são um bando de filho da puta, os que duram a vida toda. Acho que pelo fato de eu não gostar muito de sair e preferir passar sábado à noite viajando com Los Hermanos, eu não tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas...E ao mesmo tempo, agradeço por ter encontrado as melhores pessoas do mundo aqui mesmo, via internet.

Esse borbulhar de mudanças que pulsam ao redor, não é nada mais que uma normalidade complexa da nossa existência. Pisar no freio é burrice; criar conceitos acaba sendo inevitável. E são esses conceitos que podem fazer você desistir de muitas coisas, partir para um outro mundo até então escondido atrás do armário.

Quando eu menos me dei conta, lá estava eu, conseguindo dar início à poesia que é a vontade de mudar. Começar a a mudar, a continuar...Que linda música, não?



Por isso que, hoje, metade de mim está cantando.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Prezada mulherzinha

Se existe alguém que pode falar o que vou falar para você, sou eu.
Então, por favor, tenha a humildade de admitir que sei o que estou falando.
Pois o que eu te direi é duro, mas poderá te fazer um bem enorme.
Chega.
Chega de se comportar assim.
Como se estivesse lutando pelo posto de rainha da bateria. De Miss Maravilha do Mundo.
Basta de ataques, dessa competitividade suburbana eu sou a melhor, eu sou a mais alta, eu sou a mais gostosa do pedaço.
Ninguém tá ligando a mínima se você corre 10 quilômetros ou se aplicou Botox nessa sua testa sem expressão.
Ou se você é assim porque ainda não passa de uma menininha que quer ser mais perfeita do que a mãe, conquistar o amor do pai e ser a primeira da classe.
Esse teu afã psicopata de vencer todas as paradas só te deixa ridícula.
E me faz querer usar um termo que odeio: coisa de mulherzinha.
Mulherzinha é que tem essa mania de estar sempre desconfiada das amigas, porque todas teriam inveja do seu corpão e do seu cabelão estilo falso-loiro-natural-cinco-tons.
Lamento informar, querida, que ninguém sente inveja de você.
Por isso, chega de dizer por aí que, para não atrair olho grande, é bom ficar de bico fechado sobre a tal possível promoção que você terá no trabalho.
Relaxa, ninguém está a fim de ser você.
Tente, portanto, ser você com mais leveza.
E lembre-se: esse negócio de dizer que não se pode confiar em mulheres só comprova que você é uma pessoa maliciosa.
Sendo que isso está longe de ser porque você é fêmea.
Quando vejo você tagarelando sobre seus feitos sexuais, sinto-me num filme ruim sobre ginasianas americanas. Todas fanhas e excitadas.
Chega, tá?
De azucrinar os outros com essa sua boca-genital lambuzada de gloss, cuspindo baixos-clichês, simulando uma modernidade que você não tem.
Nunca mais caia no ridículo de fazer "sexo casual" com nenhum tipo de homem, mais velho ou mais novo, casado ou solteiro, porque todo mundo já sabe que você finge tudo. Que goza, que não se sente fácil, que não liga quando os caras não telefonam no dia seguinte.
Seja honesta uma vez na vida: confesse.
Que você não é nada tão wild quanto se vende.
Que não sabe falar tão bem inglês assim.
Que fez escova progressiva.
Que tem dermatite.
E enfim você terá alguma paz, pois se reconhece humana, e não a barbie boba que você procura ser.
Acredite: idiotice só te faz charmosa para os cafajestes.
Se continuar assim, nunca vai aparecer aquele cara bacana que você gostaria que aparecesse; para lutar por você, até te conquistar, e destruir essa tua linda silhueta com uma gestação de 15 quilos.
É triste, amiga Mulherzinha, mas você terá que abrir mão da máscara de rímel que cobre a sua verdade.

[Fernanda Young]