quarta-feira, 14 de julho de 2010

Clareia minha vida.... no olhar.

Havia o cansaço. O vento fresco e perfumado unia-se à chuva fraquinha e convidativa.
Dias bonitos eram raros desde que ela se conhecia como gente. Ora essa, sempre fora tão mais fácil pular dentro de si mesma e mostrar orgulho, nunca fraqueza. Desprezo, nunca saudade. Mas aquele dia...Ah, aquele dia a fez bater a porta de sua casinha atrás de si e caminhar pelas estreitas ruas da cidade.
Abriu o guarda-chuva vermelho para que a desilusão não molhasse aquela sua felicidade que a fez abrir um sorriso lentamente, de modo que seus lábios deslizaram de satisfação. Sentia-se o cheiro de café com afeto, de grama molhada, de passos ligeiros para a casa, para a família, para os livros que descansavam no criado-mudo.
Mas ela não. Ela estava ali, sozinha, caminhando e percebendo que sempre havia alguma coisa acontecendo ao seu redor.
Sempre haveria, na verdade.
Isso angustiava seus pensamentos avulsos e intensos. Era tanta vida para tão pouco tempo! Como ela conseguiria lidar com isso tudo? Como?
Ela esperava sempre mais. Mais das coisas, das pessoas, dos sentimentos, dos impulsos. Rasgava sua confiança em si mesma por um pouco de aventura, de angústia.
Ah, ela gostava da angústia, como gostava! Poderia passar dias pensando em coisas sem importância, coisas que a moviam de um lado para outro. Que a moviam da felicidade para a tristeza e o tédio. Da simplicidade para o drama.
Ela vivia mesmo quando alguma coisa pulava para o errado, o inaceitável. Quando tudo estava perfeitamente encaixado nos moldes dos normais, ela sofria em silêncio. Matava suas dúvidas em silêncio. Perdia-se de si mesma em silêncio. E nem se importava.
Nada a interessava se não houvesse sofrimento, drama e amor. Nada a interessava se fosse fácil demais de entender, se fosse uma situação afinada e sutil.
Sempre gostou do gasto, do estrago, do fim, do ontem. Sempre gostou de mergulhar dentro dos livros e perder-se na emoção que era morder todas aquelas palavras. Era algo que valia a pena. E era assim que ela gostava que as coisas fossem.
Olhou para o lado e abraçou a poesia que andava sempre ao seu lado. Sua língua estalava no desejo de pedir explicações à poesia, pedir um pouco de música, um pouco de mentira.
Mas preferiu manter seus sonhos calados e jogados no fundo da dor e do abraço.
Deslizou os lábios em mais um sorriso, fechou o guarda-chuva e deixou que a água desse para a rua um pouco de si mesma.

Queria ver como explicariam suas deduções agora. Queria só ver.