quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Veja bem

eu preciso parar de sabotar o meu próprio sono. eu tenho que comprar meias novas. preciso voltar a ler mais e parar com a desculpa do tempo. tem aquele Rubem Braga me esperando na cabeceira. mas ah – que preguiça. aliás, eu bem que precisava parar de ter preguiça. eu já perdi boas estradas por causa dela. e olha, eu aprendi que atalhos costumam ser mais solitários. e eu tenho que parar de não querer falar. de pensar no futuro. de amar tanto assistir séries com eles. porque não é que eu ache que uma hora a gente acabe, mas uma hora as temporadas acabam, entende? e o que é que acontece com essa coisa que eu amo? a gente substitui pra não doer.

eu preciso parar de substituir.

eu precisava tanto de uns abraços no meio da noite. quero parar de me preocupar com o que vão entender do que eu falo ou escrevo – porque às vezes pode ser que eu nem queira que seja algo entendível. ou pode ser que eu só queira pirar a cabeça das outras pessoas, pra ver se eu fico um pouco mais parecida com elas. eu queria parar meus pensamentos por alguns segundos. porque eles borbulham a mil graus celsius que chega a dar pontadas e no fim dói. eu preciso relaxar mais. preciso emagrecer. um spa era uma boa. mas spa? e eu só tenho quase-20-anos.

ih, eu tenho que ler mais jornal. eu preciso escrever uma carta. mas quer saber? eu não escrevo porque estou com vergonha ou ressentimento – não decidi ainda. vergonha ou ressentimento do destinatário. não era pra ele saber. desconfiar, tudo bem. mas saber do que eu falava, não, não era pra ele saber. mas ele sabia e fingiu que não sabia. viu que aquilo me machucava e nem sequer insistiu pra que eu contasse o tal segredo. sabe por quê? é que ele sabia. e sabia quão secreto deveria ser aquele assunto e não era. você sabe, segredos precisam ser contados ou então a gente explode e os restos grudam na parede.

eu precisava escrever uma segunda carta. mas não vou porque eu tenho um pouco, um puquinho só que seja, de orgulho – ou é mais vergonha? sabe você não entende, eu tinha que escolher. era um futuro versus um passado. situações completamente diferentes, mas era um futuro que eu realmente acreditava. não sei quão chateado você ficou, mas saiba que você era o melhor amigo que uma menina poderia ter tido nauqela fase de adolescente. porque dizer “eu-vou-tirar-isso-de-mim” é a loucura mais gostosa. mas sabe, outro whatever pra tudo isso.

porque eu preciso relaxar. e parar de pensar um pouco. preciso parar de ter nós na garganta quando escrevo. preciso aceitar que nem tudo é como eu quero que seja. e eu sei disso desde o quê, uns 12 anos de idade. mas não adianta saber se eu não faço o negócio funcionar. porque me forçar a não beber café não ajuda – o negócio é bem mais inlembrável que isso. ih, preciso treinar minha memória. eu preciso parar de reclamar da minha coluna e voltar a fazer exercícios físicos. o médico falou que se eu continuar assim vou ter vou ser torta pro resto da vida – e não é isso o que eu quero, certo? porque já incomoda bastante assim, desse jeito, com quase-20-anos. dançar faz doer menos. quero dançar a noite inteira. eu quero um samba pra me aquecer, quero algo pra beber. eu odiava samba, e odiava beber, odiava mesmo, mas samba e vinho vão ser sempre o enredo daquela temporada.

eu amo vinho.

alguma coisa precisa ser feita. porque eu não consigo dormir essa noite. e na anterior. e na outra e na outra. sabe, eu gosto mesmo de dormir. gosto, sim. daí vem toda essa cachoeira berrante de idéias idiotas e lembranças e planos e futuro e passado e presente e. será que ele já dormiu?

eu tenho que ser mais tolerante. a questão agora é que direito e cênicas são coisas bem diferentes. com que cabeça eu vou entrar lá? que tipo de gente vou encontrar? vou sair de um lugar onde há amadorismo e livros e práticas complexas, vou pegar o ônibus e vou ter minhas horas de reclamações e leis e teorias. e talvez eu ame muito isso. talvez eu odeie. talvez eu seja uma negação para defender – na verdade eu já tenho quase certeza disso. talvez finalmente descubra que não sei mesmo o que quero da vida. eu já tenho quase-20-anos, meu deus do céu. o que diabos eu quero da vida?

2 comentários:

Surto! disse...

rubem braga é demais, adoro cronicas.

gostei da sua escrita.

parabens

Unknown disse...

Texto bom pra mim é aquele PRENDE, e só depois da ultima linha eu consegui abrir as algemas. Muito bom "Fe". :*