quinta-feira, 24 de setembro de 2009







Ela sacudiu a cabeça tentando não pensar em mais nada. O gosto de café na boca, o gosto de desilusão no coração e uma espécie de quase-esperança na alma. Queria respostas, desejava ter tantas respostas para as coisas desse mundo, para seus próprios sentimentos e não-sentimentos que de repente o dia foi ficando escuro, nublado, sozinho, perdendo aos poucos a vontade de continuar... E a alma, porque talvez ela exista mesmo, foi falando baixinho e baixinho que "o show deve continuar"... e a esperança provou que existia sim e ela sentiu uma vontade enorme de abrir os braços e sorrir e gritar para o mundo todo que sua alma estava aberta e que era tão tão tão fácil ser feliz, tão fácil ser feliz...




E ela era.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Reprise

Já fazia friozinho. Friozinho bom, cheio de noites embaixo do cobertor com o Rick de Casablanca murmurando "We'll always have Paris", e esperando o avião partir. Porque, você sabe, partir não é necessariamente ir embora para sempre. Partir é respeitar essa nossa estranha necessidade de tentar ser alguém diferente, de tentar ouvir um pouco mais de nós mesmos. E já fazia friozinho. Friozinho das tardes de café e leitura, um pouco de Lispector porque eu adoro sofrer e me encontrar, depois Drummond, Nora Roberts pra quebrar o gelo do coração e esperar que um Phillip Chamberlain bata na porta da minha casa, e qualquer filosofia que me faça pensar nas coisas da vida. Friozinho das noites de chá, solidão e Regina Spektor "Will never be my dear, dear friend, dear dear friend, dear dear friend..." ou de vinho, edredon, coque e filme com as melhores pessoas do mundo. Já fazia friozinho de vontades absurdas, tipo tomar sorvete de amora, pisar em folhas secas, abraçar amigos antigos, andar de mãos dadas, conhecer um músico que sofra a arte, e queira salvar o mundo da forma mais doce possível, e que goste de ser cuidado - e de cuidar, né? Ai, já fazia friozinho dos banhos quentes, dos pijamas gordinhos, da massagem nos pés antes de dormir, de colocar a meia quentinha e murmurar baixinho "we'll always have Paris, we'll always have Paris...".

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Crise (?)

Falta-me uma decisão melhor, eu sei. Falta-me um tanto de coragem e um pouco de fé, também sei. Não que isso importe. Hoje não quero mais do que eu posso ter, e isso me fez compreender uma coisa que eu já sabia há tempos: o que é nosso não fica guardado por muito tempo não; esquecer é o que acontece depois de tantos silêncios e acho que estou pronta para dizer que parei. É, parei. Não posso parar? A questão não é nem poder, é precisar. Preciso parar e é o que eu vou fazer.
A partir de hoje, na minha vida, só entra quem eu quiser e permanece quem merecer.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Eu fiquei durante muito tempo tentando manter na memória uma coisa dolorida e feia, que me mastigava e destruia e me engolia por completa. Fiquei por muito tempo brincando de querer-e-não-poder-ter. Enquanto estávamos juntos, eu guardava na caixinha aqui dentro da minha cabeça todos os lugares e palavras e observações que você fazia. Porque eu sabia que um dia tudo terminaria e, mesmo que você mudasse de cidade, de estado, de país – que você morresse – aqui dentro tudo estaria guardado para quando eu quisesse reviver o nosso amor.

É incrível a forma como eu memorizei tudo. Tudinho. Aqui Dentro. Bem vivo. Até hoje. Lugares, palavras, músicas, filmes, imagens, situações, posições, sorrisos. A cara que você fazia quando ficava bravo, quando eu chorava, quando você estava envergonhado. Eu recordo tudo. A diferença é que ontem eu lembrava e morria. Hoje eu lembro. E só. A diferença é que ontem eu te via e morria. Hoje eu te vejo. E lembro. Mas só.

Às vezes eu penso se poderia ter sido diferente. E se eu tivesse fingido que não ouvi você falar o nome dela, e se eu tivesse insistido menos, e se eu tivesse feito menos drama, e se. Mas, afinal, tudo isso é indiferente. Tudo que acontece, tudo que se fala, tudo que se sente é tão efêmero, inconstante e imprevisível. Tão fora de nossas mãos. Pensar em como poderia ter sido não muda o passado. E hoje eu nada mais posso fazer para ter você em minhas mãos.

Durante muito tempo eu tentei te esquecer. Sabe, “buscar em outros braços seus abraços”? mas não apenas isso, eu também saía e falava de você quando ficava fora de mim. E os meus amigos, que me queriam bem, me mandavam esquecer, me mandavam largar mão de ser trouxa. Eu me estraguei por dentro, eu perdi o pouco amor próprio que me restava.

Depois eu criei o costume de mentir para o meu reflexo no espelho e dizer que tudo bem, vai ficar tudo bem, que eu enfrentei teu adeus como um sorriso nos lábios. Queria apenas que fosse let it be mesmo, passou, passou, não toca mais, não machuca mais, não consome mais. E eu, tão cheia de confiança acabei percebendo que eu fui arrogante demais com o meu coração, que acreditei demais que poderíamos nos enganar pelo resto da vida, tanta mentira que eu contei para saber suportar a dor de perder você, tanta coisa suja e feia que eu inventei. Eu ria sempre, falava sobre nossos momentos como se não tivessem sido importantes, e eles foram tudo o que eu tenho de bonito em mim, agora eu consigo entender, agora eu posso te dizer que foi real, que eu senti o amor dentro do peito. E existe, meus caros, o amor existe sim, e ele pode ser bem verdadeiro se permitirmos.