sábado, 24 de abril de 2010

Asas nos teus pés


Seja lá onde for, deixa o Sol te levar!

terça-feira, 20 de abril de 2010

O que sobrou foi uma xícara

O que sobrou foi uma xícara de café (ou de chá de hortelã). O que sobrou foi uma xícara que recebe uma sombra clara todos os dias quando é de manhã. É sempre uma nuvem que passa pela janela, espantando os pequenos pássaros lá de fora. E a xícara, sobre a pequena mesa da cozinha, de branca fica cinza por alguns minutos.

Quando ainda desperto, quando ainda sobrevôo meus pensamentos tentando quebrar esse sentindo-que-tive-bons-sonhos, sentindo o que é realidade e ilusão, lembro-me imediatamente que a xícara está lá, como se ela me esperasse para ficar cinza, ou verde, vai saber. Calço meus chinelos e adentro os corredores ainda sonolenta, ainda mal vestida, ainda despenteada. Sinto um cheiro de café, sinto o gelado das paredes com aqueles quadros que nem sei se gosto. E a xícara está lá.
Olho pra ela como se não a visse, como se ela fosse qualquer objeto transparente, translúcido, desinteressante, mas é tudo ilusão porque eu olho, verdadeiramente, como se fosse possível quebrá-la, com se fosse possível com a força do meu pensamento jogá-la contra a janela. Como se fosse possível adorar essa força que vem dela. E então chega a nuvem e forma aquela sombra. Aquela sombra maldita que a deixa tão mais sólida, tão mais densa, tão mais você.
Nesses longos minutos de sombra na xícara é como se eu também recebesse toda aquela sombra, como se eu, nuvem tenra, de repente fosse nuvem robusta (coisa que eu não sou). E assim, quando é, sinto ser possível mover uma tempestade, sinto ser possível controlar raios, trovões, relampagos, luminosidade.
Sento na cadeira, aquela de sempre. Sento na cadeira em direção à xícara. Eu poderia escolher outro lugar à mesa, mas não consigo, não devo, ou é alguma coisa que manda em mim e eu obedeço. Sente-se de frente para xícara, sussurra em meus ouvidos.
Se fosse xícara gente. Se fosse você xícara. Humano, carne e sangue, pequena, frágil, sem sentido. Talvez se sentisse bem por ser xícara, por ser humano, por receber uma pequena sensação do que é a vida e contentar-se com isso, apenas com isso.

Se você gente fosse xícara luminosa.

sábado, 17 de abril de 2010

Outra carta.

Tenho me distraído tanto ultimamnte, e nem pensar mais em você eu tenho pensado. Cada um seguindo sua vida. Bem let it be. Chego em casa à noite, olho pela janela, faço um chá e, não penso em você. Não penso em você de jeito nenhum. Deixo as coisas em seu devido lugar e minto pra mim dizendo que não foi tudo aquilo que eu dizia, que eu me enganei como já havia me enganado antes. Criei o costume de mentir para o meu reflexo no espelho e dizer que tudo bem, vai ficar tudo bem, que eu enfrentei teu adeus como um sorriso nos lábios. Tanta mentira que me causou tanta dor. Mas ontem eu cheguei em casa à noite, senti frio e pensei em você. E doeu bastante, doeu bastante pensar em você e saber que tínhamos tanto potencia pra encontrar o amor e a felicidade. Que podíamos sim ser feitos um pro outro. E enquanto eu fui pensando em tudo isso, fui me encolhendo dentro de mim mesma, e fui aceitando a dor, e chorei. Chorei tanto tanto tanto, esperando uma palavra de consolo de alguém, esperando você me dar um telefonema e dizer que tudo bem, pequena, eu estou aqui, nós estamos juntos nisso; que as coisas ainda são como a dois anos antes quando você me embalava nos braços e me fazia dormir. Pensar em você não devia nunca ser tão doloroso assim. Queria só que fosse bem let it be mesmo. Passou, passou. Não toca mais, não machuca mais, não consome mais. E eu, tão cheia de confinça, fui percebendo que fui arrogante demais com meu corção, que acreditei demais que poderíamos nos enganar pelo resto da vida. Tanta mentira que eu inventei pra suportar a dor de perder você. Hoje eu sei que os nossos momentos são tudo que eu tenho de bonito em mim. Agora eu consigo entender, e posso dizer que foi real, que valeu a pena. Que vale a pena. E existe, o amor existe sim, e ele pode ser bem verdadeiro se permitirmos.

Agora as noites continuarão a deslizar do lado de fora e, eu nada mais posso fazer pra trazer você de volta em minhas manhãs, eu só queria poder te ligar e dizer boa noite eu te amo forever da mesma forma em qualquer lugar, mas nada mais posso esperar, nada mais posso pedir.
[...]
Não tem mais você dentro da minha vida e dentro de todas as coisas que formavam a minha vida com você.
E eu acho que agora eu consigo aceitar que, mesmo com um fim, sempre existe uma chance de ser feliz dentro de nós mesmos e, dentro de todas as pessoas no mundo que podem, talvez, ser o que você foi pra mim.

Mas dói, dói bastante.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Uma coisa que me irrita profundamente?
Tirarem de mim dias bonitos, dias que poderiam ter sido, dias que poderão ser.
Uma coisa que deve irritar profundamente as outras pessoas?
O fato de eu ainda insistir, e por dias.
É. Odeio quando tiram de mim minha opção de escolha, ou pelo menos a minha opção de dizer não, sim, talvez, claro, nem pensar, quem sabe nunca, quem sabe sempre. Nem tudo o que é falado é dito, entende.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Tá bom

"Me diz, cadê você ai?
E ai, não há sequer um par pra dividir"

sexta-feira, 9 de abril de 2010

por três vezes ela havia começado outra carta. por três vezes se encheu de incertezas e perdeu o que existia para ser dito. deixou os textos de lado e foi dormir. porque ela era assim, desde antes, desde sempre: se estava insegura ou com medo ou com dores tão grandes e tão grandes que ninguém nunca poderia compreender, ela ia dormir.
o mundo é cruel com quem se aproxima. o mundo não ajuda com dias ensolarados para passeios no parque, ou com dinheiro brotando nos bolsos dos casacos, ou com pessoas que nos desejam bom dia no café da manhã. o mundo nos traz preocupações, medo, insegurança. nos traz caras feias e palavras duras que viram manhãs feias e dias duros e noites insuportáveis. o mundo nos testa 24 horas – nos testa até nos sonhos durante a noite.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

“Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez.”

Tô precisando, viu.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

é tudo que vale a pena

Saudade é um estado em nós, tem hora que toca - o coração -, tem hora que não.



Engraçado, às vezes nós estamos com saudade de algumas coisas e nem nos damos conta.

Eu estava com saudade das boas conversas até mais tarde, da música alta, das risadas, das besteiras sem sentido, do aconchego, das frases de livros, disso tudo que me pertence em conjunto.
Porque assim suspensa e de cabelos presos, mais intensamente ela era ela em seu balanço guardado, seu tumulto interior, seus gestos e risos por dentro, para sempre, ai.