quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Reprise

Já fazia friozinho. Friozinho bom, cheio de noites embaixo do cobertor com o Rick de Casablanca murmurando "We'll always have Paris", e esperando o avião partir. Porque, você sabe, partir não é necessariamente ir embora para sempre. Partir é respeitar essa nossa estranha necessidade de tentar ser alguém diferente, de tentar ouvir um pouco mais de nós mesmos. E já fazia friozinho. Friozinho das tardes de café e leitura, um pouco de Lispector porque eu adoro sofrer e me encontrar, depois Drummond, Nora Roberts pra quebrar o gelo do coração e esperar que um Phillip Chamberlain bata na porta da minha casa, e qualquer filosofia que me faça pensar nas coisas da vida. Friozinho das noites de chá, solidão e Regina Spektor "Will never be my dear, dear friend, dear dear friend, dear dear friend..." ou de vinho, edredon, coque e filme com as melhores pessoas do mundo. Já fazia friozinho de vontades absurdas, tipo tomar sorvete de amora, pisar em folhas secas, abraçar amigos antigos, andar de mãos dadas, conhecer um músico que sofra a arte, e queira salvar o mundo da forma mais doce possível, e que goste de ser cuidado - e de cuidar, né? Ai, já fazia friozinho dos banhos quentes, dos pijamas gordinhos, da massagem nos pés antes de dormir, de colocar a meia quentinha e murmurar baixinho "we'll always have Paris, we'll always have Paris...".

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